Por que montadoras estão anunciando investimentos bilionários no Brasil

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Quando o assunto são fábricas de automóveis, o Brasil viveu tempos sombrios nos últimos anos. Em um intervalo de meses, o país deu adeus a plantas importantes, como as da Ford, em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e São Bernardo do Campo (SP); da Toyota, também em São Bernardo do Campo, e da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), perdendo milhares de postos de trabalho. Agora, no entanto, o jogo virou. Também em poucos meses, quatro montadoras anunciaram quase R$ 21 bilhões de investimentos no mercado brasileiro. Afinal, o que está por trás da investida?

O maior investimento foi anunciado pela Volkswagen nesta quinta-feira (01). A montadora alemã vai investir R$ 9 bilhões no país entre 2026 e 2028, além dos R$ 7 bilhões já anunciados para aporte entre 2022 e 2026. Em um primeiro momento, a quantia contempla o desenvolvimento e a produção de quatro novos carros, previstos para 2024. Entre as novidades, a marca já confirmou que lançará uma picape – que deve concorrer com Fiat Toro e Chevrolet Montana -, um novo motor e uma nova plataforma, os dois últimos serão utilizados em veículos híbridos. Até 2028, serão 16 novos veículos.

Na semana anterior, foi a Chevrolet que anunciou seu novo ciclo de investimentos de R$ 7 bilhões até 2028 – o que inclui a atualização de suas plantas, o lançamento de seis veículos ainda em 2024 e a renovação de todo o portfólio até o fim do ciclo. A marca também afirmou que modelos eletrificados, sem cravar se híbrido ou elétrico, fazem parte dos planos.

Em novembro do ano passado, foi a fez na Nissan anunciar um investimento adicional de R$ 1,5 bilhão. No total, serão R$ 2,8 bilhões aportados em sua planta em Resende (RJ) entre 2023 e 2025. A Renault também direcionou R$ 2 bilhões para o Brasil.

Oportunidade X Necessidade

Tantos anúncios em pouco tempo revelam que não se trata de decisões pontuais de cada marca, mas de uma mistura de necessidade com oportunidade. Conforme explicado pelo CEO da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, em entrevista à coluna, “investimentos sempre acontecem, mas o cenário define o tamanho”. Uma tradução justa para frase é que toda marca que produz no país precisa aportar mais dinheiro para se manter, mas o momento atual, com incentivo à eletrificação pela legislação, é uma oportunidade para investir mais.

Para o executivo da Volks, um conjunto de fatores justificam o aporte, entre eles, o bom ano que a marca viveu em 2023, figurando como a montadora que mais cresceu em participação de mercado entre as cinco maiores. O que, “aqui entre nós”, além de consequência das estratégias acertadas, foi influenciado pela melhora nos índices econômicos. As perspectivas futuras também impactam na decisão: a Reforma da Tributária, o retorno da taxação para carros elétricos importados e o Mover – programa de incentivo à Mobilidade Sustentável – são citados como fatores importantes.

“A taxação dos carros eletrificados importados influencia totalmente na decisão. Caso contrário, era mais simples trazer carros de outros países. Foi uma atitude acertada, que incentiva o investimento no país. Já o Mover, que é mais recente, ajuda a ratificar que a nossa decisão foi correta. Estamos apostando forte na produção de carros híbridos flex, que serão incentivados pelo programa”, argumenta o Possobom.

Os discursos dos executivos da Chevrolet durante o anúncio da primeira fase no novo ciclo de investimento também traziam uma visão positiva do cenário econômico. “A visão de longo prazo da GM é continuar investindo e crescendo, trabalhando em conjunto cm o poder público para reindustrializar o Brasil e crescer no mercado. Estamos vislumbrando um cenário de segurança jurídica, com o anúncio do Mover, o comportamento da taxa de juros, bolsa…”, afirmou Fábio Rua, vice-presidente de Relações Governamentais e Comunicação da montadora.

Outro fator que não é dito claramente, mas que, certamente, está na conta dos executivos é fazer frente às chinesas que chegaram ao país no último ano. Tanto BYD como GWM anunciaram investimentos, embora mais tímidos, na construção de fábricas no Brasil. A questão é que – por conta do volume de produção em todo mundo – essas marcas conseguem preços competitivos, que impactam fortemente o mercado

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