A relatora da CPMI do 8 de janeiro, Eliziane Gama (PSD-MA), apresentou hoje o resultado dos quase cinco meses de trabalho da comissão e pediu, ao todo, o indiciamento de 61 pessoas. Destaque para o entorno de Jair Bolsonaro e do próprio ex-presidente, por ter “colaborado decisivamente para o desfecho dos atos do dia 8 de janeiro de 2023”.
O relatório afirma que o grupo cometeu “prática dolosa” em quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
O pedido de indiciamento de Braga Netto, por exemplo, é por suposta atuação na coleta de apoios dentro das forças armadas e no incentivo aos acampamentos nas instituições militares; Augusto Heleno, por omissões dolosas e adesão subjetiva às ideias golpistas; o almirante Garnier, pelo desfile de tanques para tentar intimidar o Congresso Nacional e por concordar com o golpe supostamente proposto por Jair Bolsonaro; e o general Paulo Sérgio Nogueira, ao atuar para deslegitimar as urnas eletrônicas e usar um hacker para descredibilizar o sistema eleitoral.
Os ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, e o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, também estão na lista.
Eliziane também pede o indiciamento, por omissão, de agentes públicos que atuavam no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e de policiais militares do Distrito Federal.
Vale ressaltar que os pedidos feitos por Eliziane não significam indiciamentos automáticos. A lista é, na prática, uma sugestão. Cabe aos órgãos responsáveis, como o Ministério Público, avaliar a apresentação de denúncias.
Veja os indiciamentos pedidos no relatório
- Ex-presidente Jair Messias Bolsonaro
- general Walter Souza Braga Netto – candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e ex-ministro da Casa Civil e da Defesa
- general Augusto Heleno Ribeiro Pereira – ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro
- general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira -ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro
- general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – ex-ministro da Defesa de Bolsonaro
- almirante Almir Garnier Santos – ex-comandante da Marinha
- general Marco Antônio Freire Gomes – ex-comandante do Exército
- tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Luís Marcos dos Reis – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- major Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Antônio Elcio Franco Filho
- Jean Lawand Júnior
- Anderson Gustavo Torres – ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e então secretário de Segurança Pública do DF
- Marília Ferreira de Alencar – ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça e ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF
- Silvinei Vasques – ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal
- Carlos José Russo Assumpção Penteado, general do Exército, então secretário-executivo do GSI;
- general Carlos Feitosa Rodrigues, ex-chefe da Secretaria de Coordenação e Segurança Presidencial do GSI
- Wanderli Baptista da Silva Junior, coronel do Exército, então diretor-adjunto do Departamento de Segurança Presidencial do GSI;
- André Luiz Furtado Garcia, coronel do Exército, então coordenador-geral de Segurança de Instalações do GSI;
- Alex Marcos Barbosa Santos, tenente-coronel do Exército, então coordenador-adjunto da Coordenação Geral de Segurança de Instalações;
- José Eduardo Natale de Paula Pereira, major do Exército, então integrante da Coordenaria de Segurança de Instalações do GSI;
- Laércio da Costa Júnior, sargento do Exército, então encarregado de segurança de instalações do GSI;
- Alexandre Santos de Amorim, coronel do Exército, então coordenador-geral de Análise de Risco do GSI;
- Jader Silva Santos, tenente-coronel da PMDF, então subchefe da Coordenadoria de Análise de Risco do GSI.
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da PMDF
- Klepter Rosa Gonçalves – subcomandante da PMDF
- Jorge Eduardo Barreto Naime – ex-comandante do Departamento de Operações da PMDF
- Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra -PMDF
- Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues – comandante do 1º CPR da PMDF
- Flávio Silvestre de Alencar – comandante em exercício do 6º Batalhão da PMDF
- Rafael Pereira Martins – PMDF
- Filipe Garcia Martins Pereira – PMDF
- Tércio Arnaud Tomaz
- Fernando Nascimento Pessoa
- José Matheus Sales Gomes
- Alexandre Carlos de Souza e Silva
- Marcelo de Ávila
- Maurício Junot – Empresário – responder por peculato, corrupção ativa, fraude em licitação ou contrato e contratação inidônea. .
- Deputada Carla Zambelli
- Marcelo Costa Câmara
- Ridalto Lúcio Fernandes
- Meyer Nigri – Empresário
- Adauto Lúcio de Mesquita – Financiador
- Joveci Xavier de Andrade – Financiador
- Ricardo Pereira Cunha- Financiador
- Mauriro Soares de Jesus – Financiador
- Enric Juvenal da Costa Laureano – Financiador
- Antônio Galvan – Financiador
- Jeferson da Rocha – Financiador
- Vitor Geraldo Gaiardo – Financiador
- Humberto Falcão – Financiador
- Luciano Jayme Guimarães – Financiador
- José Alípio Fernandes da Silveira – Financiador
- Valdir Edemar Fries – Financiador
- Júlio Augusto Gomes Nunes – Financiador
- Joel Ragagnin – Financiador
- Lucas Costa Beber- Financiador
- Alan Juliani- Financiador
- Alan Diego dos Santos, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao aeroporto de Brasília
- Wellington Macedo de Souza, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao aeroporto de Brasília
- George Washington de Oliveira Sousa, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao aeroporto de Brasília
”Autor intelectual”
Eliziane Gama aponta Jair Bolsonaro como o principal autor intelectual dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, “pois pretendia ser seu maior beneficiário em caso de sucesso no intento golpista”. O texto cita ainda a atuação de Bolsonaro nas redes sociais para articular o ódio e o aprofundamento dessas estratégias durante as eleições.
A senadora destaca não apenas a liderança de Bolsonaro entre seus simpatizantes, mas também sua atuação ao atacar pessoas que pudessem atrapalhar suas ideias golpistas, como agentes públicos, jornalistas, empresários, militares e outros, inclusive com o uso da máquina pública para “coagir e agredir pessoas”.
Citados, mas sem pedidos de indiciamento
Alguns nomes citados ao longo da CPMI foram apenas citados no relatório da senadora Eliziane Gama.
Não houve pedido de indiciamento, por exemplo, para alguns dos envolvidos nos casos das jóias, como Mauro Cesar Lourena Cid (pai de Mauro Cesar Barbosa Cid), Frederick Wassef (advogado de Jair Bolsonaro), Osmar Crivelatti (integrante da ajudância de ordens da Presidência da República), Marcelo Costa Câmara e Marcelo da Silva Vieira.
Participantes da fraude nos cartões de vacinação das famílias Bolsonaro e Cid também ficaram de fora da lista de indiciados, mas com recomendação de aprofundamento nas investigações.
Também ficaram sem indiciamento, mas com pedido de mais investigação: o hacker Walter Delgatti; o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha; o advogado Amauri Feres Saad; e Renato Lima França, que atuou como subchefe de assuntos jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro.
Outras recomendações
Além de indiciamentos e propostas de investigação, o relatório da CPMI traz sugestões legislativas e ideias para aprimoramento institucional.
O relatório sugere cinco projetos de lei. O primeiro faz ajustes na lei que trata dos acervos privados dos presidentes da República. O segundo sugere que a Força Nacional de Segurança Pública possa atuar de ofício sob orientação do Ministro da Justiça, exclusivamente nas proximidades de prédios públicos.
O terceiro ajusta as relações entre o TCU e as CPMIs, especificamente sobre o compartilhamento de documentos. O quarto cria o Dia Nacional da Defesa da Democracia no dia 25 de outubro, dia do assassinato de Vladimir Herzog. O quinto proíbe que bancos públicos emprestem dinheiro para empresas condenadas por atos antidemocráticos.
A senadora Eliziane Gama recomenda ainda que o Congresso Nacional avance em uma série de discussões, como o PL das Fake News, os debates sobre inteligência artificial e a manutenção dos impostos sobre armas e munições para desincentivar a compra.