Reunião MDB/PSDB para consolidar Simone Tebet pode colocar os Sarney em posição incômoda

Roseana Sarney e José Sarney (c) querem apoiar Lula da Silva. mas podem ter de apoiar Simone Tebet

Se o MDB e o PSDB fecharem o acordo – que incluirá também o Cidadania – em torno da candidatura da senadora por Mato Grosso Simone Tebet à presidência da República, a ex-governadora Roseana Sarney, que comanda o MDB no Maranhão, e o ex-presidente José Sarney, presidente de honra do MDB nacional, serão envolvidos numa situação política extremamente incômoda e de difícil solução. Explica-se: os líderes emedebistas maranhenses têm dado pistas muito claras de que estão inclinados a apoiar o projeto do ex-presidente Lula da Silva (PT) de voltar ao Palácio do Planalto, entusiasmados inclusive com o favoritismo do petista, segundo todas as pesquisas. Se decidirem apoiar Simone Tebet, ficarão em situação delicada, já que a emedebista vai disparar chumbo grosso contra Lula da Silva – e também contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Se, ao contrário, decidirem manter o apoio a Lula da Silva, mesmo com Simone Tebet candidata, Roseana Sarney e José Sarney ficarão numa situação de extrema dificuldade dentro do MDB, correndo até o risco de sofrerem pressões para deixar o partido.

A relação dos Sarney com Lula da Silva é sólida e de longevo antecedente. Por conta do rompimento com o PSDB, a quem responsabilizaram pela Operação Lunus, que  tirou Roseana Sarney da corrida presidencial de 2002, fez com que os Sarney apoiassem Lula da Silva naquele pleito, dando a volta por cima com a derrota do tucano José Serra, visto pelos aliados dos emedebistas como o mentor da armação que quase destruiu a reputação da ex-governadora, que se elegeu senadora com folga, apesar da pancadaria que recebeu no plano nacional. Em 2006, na disputa de Roseana Sarney contra Jackson Lago (PDT), o então presidente Lula da Silva, que buscava a reeleição, jogou todo o peso da sua força política e do seu prestígio pessoal a favor da candidata emedebista, chegando a pedir, num comício em Timon, na véspera da eleição, que “pelo amor de Deus” os maranhenses elegessem sua aliada. O apelo dramático ajudou, mas não foi suficiente, pois Jackson Lago foi eleito com dois pontos percentuais de vantagem.

A derrota de 2006 não abalou a relação de Lula da Silva com a agora senadora Roseana e José Sarney, principalmente por conta da  forte influência deles sobre a bancada emedebista no Congresso Nacional, e foi estreitada ainda mais em 2009, quando ela voltou ao comando do Estado na esteira da derrubada do governador Jackson Lago pela Justiça Eleitoral. E mais, se manteve forte em 2010, quando Roseana Sarney, disputando com o ex-governador Jackson Lago e com o deputado federal Flávio Dino (PCdoB), foi reeleita em dobradinha com a candidata petista a presidente Dilma Rousseff. A parceria Sarney/Lula da Silva no Maranhão foi mantida em 2014, quando Lula da Silva e Dilma Rousseff, candidata à reeleição, apoiaram a candidatura do suplente de senador Lobão Filho (MDB) ao Governo do Estado, numa disputa com o ex-deputado federal Flávio Dino, que venceu a eleição no primeiro turno, infligindo uma derrota histórica na parceria MDB/PT no Maranhão.

A parceria Sarney/Lula da Silva foi rompida em 2016, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. E se deu por uma situação lógica: o impedimento da presidente Dilma Rousseff teria como principal desdobramento a ascensão do vice-presidente, o emedebista Michel Temer. Com a perspectiva de voltar ao poder nas asas do MDB, o seu partido, Roseana e José Sarney não tiveram dúvida: romperam a aliança com o PT e encamparam o discurso do impeachment. Em 2018, a derrota do candidato do PT, Fernando Haddad, para Jair Bolsonaro (PSL), na disputa para presidente, e a derrota de Roseana Sarney para Flávio Dino para o Governo do Maranhão, colocaram MDB e PT  como numa espécie de jogo zerado.

Os desastrosos resultados de 2018 para PT e MDB, tanto no plano estadual quanto no plano nacional, abriram caminho para que Lula da Silva e os Sarney criassem as condições para uma reconexão. Isso está acontecendo neste momento, num processo cujo desfecho vai depender muito do resultado da reunião de hoje entre MDB e do PSDB.

 

Via Repórter Tempo

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