Nem existem rosas…

Por Joaquim Haickel

Quando eu era apenas um jovem mancebo com pretensões de entrar para a lide política, ouvi falar em um artigo que se tornou célebre na história da política maranhense. Esse artigo é coisa do tempo em que a política ainda tinha algum valor. Escrito por Zé Sarney, “Quando as rosas começam a murchar”, cujo conteúdo era duro, sacramentava o rompimento entre ele, que era naquele momento senador e havia sido governador, e o então governador Pedro Neiva de Santana.

Até por volta dos anos 1970, 1980, ainda se podia dizer que a política era coisa que se praticava apenas com o aval de um fio de bigode, coisa que nos últimos anos do século passado caiu em completo desuso e parece que não mais voltará a moda.

Se o rompimento político já foi coisa para acontecer de forma cavalheiresca, por menos cavalheiresca que a política possa ser, hoje em dia os rompimentos têm menos pompa e circunstância, mesmo que sejam mais velados e recheados de sorrizinhos amarelos, constrangidos tapinhas nas costas e fotos desconsoladas.

De quando as rosas começaram a murchar até hoje, muitos rompimentos políticos aconteceram, alguns até bem mais polêmicos que o do citado “buquê”, como foi o caso do estridente rompimento entre Castelo e Sarney, pelo primeiro não aceitar Albérico Ferreira como seu sucessor na transição de mandato, do sutil e muito velado rompimento de Cafeteira e Sarney, quando o então governador não aceitou Sarney Filho para sucedê-lo, e o mais explosivo de todos, o de Zé Reinaldo com Sarney, que causou o começo do fim da hegemonia do grupo do maior político da história do Maranhão.

É importante observar que em todos esses rompimentos Sarney estava envolvido, pois ele era o líder hegemônico do Estado.

O que estamos vivenciando agora é o prelúdio de um rompimento surdo, feito de gestos pontuais, coisas muito próprias dos estilos de seus contendores.

Mas antes de falarmos do rompimento propriamente dito, acredito ser necessário falarmos das causas e das raízes dele.

Durante oito anos o atual governador, Carlos Brandão, comeu o pão que o diabo amassou como vice-governador de Flávio Dino, mas como é próprio de seu temperamento sertanejo, Brandão fez tudo que precisava fazer para chegar aonde desejava chegar, e chegou.

Flávio não poderia jamais ter imaginado que iria dar as cartas como bem desejasse depois que Brandão se tornasse governador. Acredito que ele nunca se iludiu quanto a isso. Durante algum tempo as coisas ainda se mantiveram em relativa harmonia, porém, o grupo mais ligado a Flávio jamais assimilou a perda natural de poder, coisa que não afetou a Flávio diretamente, pois ele é inteligente demais para deixar que isso lhe afetasse, ocorre que ao afetar seus mais próximos correligionários, isso também o atingiu.

O tempo passou e o fato de todas as decisões do governo, fossem elas políticas, administrativas e financeiras dependerem única e exclusivamente de Brandão e de um grupo muito restrito em torno dele, fez com que o grupo que outrora fora comandado com força e tenacidade por Flávio se rachasse, ficando quatro quintos dele com Brandão e apenas um quinto com Dino. Uma divisão proporcionalmente normal nesses casos.

O último bastião dinista no governo Brandão era Felipe Camarão, vice-governador indicado por Flávio, que ocupava até recentemente a secretaria de educação.

A saída de Camarão da SEDUC, em meu modesto ponto de vista, faz o papel do artigo das flores murchas e sacramenta o rompimento que já havia sido prenunciado com a saída da esposa de Marcio Jerry da secretaria na qual estava alojada, assim como outros tantos pequenos acontecimentos.

Sobre Felipe Camarão, uma pessoa por quem tenho profundo carinho e respeito, devo dizer que ele não teve o mesmo estômago forte que Brandão teve, enquanto vice-governador, pois eles são pessoas forjadas em outras forjas, resultado da liga de outros metais, e mais que isso, Brandão não tinha a quem prestar contas, como Felipe tem.

Moral da história: se na década de 1970 as rosas murcharam, hoje não existem rosas, só espinhos, mesmo que o ponderado Secretário Chefe da Casa Civil do Governo, Sebastião Madeira, desejasse ver o buquê de seu casamento com Regiane nas mãos de Carlos e Flávio, o que não aconteceu.

Os próximos episódios dessa novela serão marcados por importantes e vitais decisões que Brandão terá de tomar: Resolver se vai sair do governo para concorrer ao senado, e em fazendo isso terá que resolver quem o sucederá interinamente. Felipe é o vice e está pronto para assumir!… Em caso de permanecer no governo, Brandão precisará resolver quem serão seus candidatos a governador, a vice e as duas vagas de senador, sem contar com as bancadas de deputados federais e estaduais.

Pelo que tudo indica, a colina pariu um tigre!

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