Em um cenário singular e dominado por homens, surgiu uma figura importante para o movimento do reggae em São Luís: Nega Glicia. Segundo a mestre em Ensino, História e Narrativas, Thalisse Ramos, por volta da década de 90, indo contra o sistema patriarcal e machista da época, Glicia Helena Silva Landim ousou desbravar o território dos decks e, através sequências tocadas nas noites jamaicanas, conquistou a nação regueira na capital.
Nascida em 15 de fevereiro de 1977, a artista era dona de uma voz particular. A DJ, que abriu caminho para outras mulheres do reggae maranhense, enfrentou o preconceito e as críticas da época, mas mostrou sua competência e resiliência em conquistar espaço de visibilidade.
O legado no reggae
Para Thalisse Ramos, cuja tese de mestrado é intitulada por “As ‘Araris’ contam sua história: participação feminina do reggae em São Luís”, Nega Glicia, além de seu trabalho e pioneirismo, também se destacou por incentivar o empoderamento feminino, motivando outras mulheres a seguirem seus passos e ocuparem espaços de referência.
Em sua tese, a historiadora destaca que a Jamaica Brasileira, como é conhecida a capital do estado, relaciona-se com a forma peculiar como o reggae é desenvolvido na cidade.
Por sua maneira única em se apresentar nos bailes regueiros na cidade, a DJ conquistou a admiração de muita gente, em especial, a do cantor Cesar Nascimento, que inspirado na artista, compôs a canção “Maguinha do Sá Viana”.
Em um trecho da música que diz “Baixo tá no pé, corpo na canção. Toca radiola essa Maguinha é um furacão” personifica a imensidão de pessoa e artista que Nega Glicia era. O cantor se encantou pela forma como Glicia “deslizava no chão vermelho do salão”, traduzindo, em palavras, a maneira singular e única de dançar o ritmo na Ilha do Amor.
Ao g1, o amigo e também DJ de reggae, Jorge Black, relembrou que os dois iniciaram nos decks por volta do ano de 2010 e tiveram a oportunidade de viajar para outros lugares juntos. Para ele, Glicia abriu muitas portas no movimento, e que hoje existem várias DJs que se inspiram na artista.
“Um dos momentos que marcam a nossa história foi quando tocamos na ‘prainha’, em Pinheiro. Foi no evento Cidade do Vinil, em 2010. Até hoje esse é um dos áudios mais ouvidos que a gente tem, tanto que inúmeras das outras festas que a gente fez juntos foi devido a nossa performance nessa apresentação […] A gente perde uma grande representante, uma guerreira, uma mulher empoderada e uma mãe preta, que criava o seu filho sozinha e, com detalhe, tudo que ela tinha era através da música reggae. Ela dizia que era uma ‘guerreira’ do reggae”.
o g1, o DJ de reggae Jorge Black, relembrou que os dois iniciaram nos decks por volta do ano de 2010 e tiveram a oportunidade de viajar para outras regiões juntos. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Despedida
Neste domingo (25), amigos, familiares e admiradores se reuniram para se despedir da artista. Nas redes sociais, grandes nomes do reggae lamentaram a sua partida. Em uma publicação, o radialista e DJ de reggae, Ademar Danilo, prestou homenagem à artista.
Em uma publicação nas redes sociais, o radialista e DJ de reggae, Ademar Danilo, prestou homenagem a artista. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Em entrevista ao g1, a DJ maranhense Solange Feitoza relembrou como Nega Glicia influenciou a sua carreira no movimento: “Ela me dizia que, quando a gente fosse tocar, era pra impactar mesmo, chegar com força, para as pessoas não esquecerem da gente, para ficar marcada na memória”.
Fonte – G1 Maranhão – *Supervisionado por Rafael Cardoso