Poucas vezes na história política recente do Maranhão uma eleição para a presidência da Assembleia Legislativa teve desfecho tão rápido e antecipado como a que está marcada para o dia 1º de fevereiro do ano que vem, daqui, portanto, a um mês e meio, quando a nova composição do Poder Legislativo será empossada. Num cenário em que o atual presidente, deputado reeleito Othelino Neto (PCdoB), despontava sem adversários, a deputada eleita Iracema Vale (PSB) entrou no circuito, lançou sua candidatura, recebeu o aval governador Carlos Brandão (PSB) e em pouco mais de 20 dias virou radicalmente o jogo, fechando a semana que passou com o apoio de pelo menos 30 dos 42 deputados, segundo contas de fontes governistas. Com a candidatura esvaziada, o presidente Othelino Neto compreendeu a virada do vento, e como um político que já acumula um respeitável lastro de experiência, reviu seu projeto e sentou com o governador Carlos Brandão para buscar o consenso em favor de Iracema Vale.
Esse desfecho é exemplar para mostrar o poder de fogo político concentrado nas mãos do governador Carlos Brandão. Reeleito no 1º turno, tendo como principal aliado o senador eleito Flávio Dino (PSB), e como detentor do apoio da maioria da bancada federal, de pelo menos 30 deputados estaduais, e sem uma sombra para incomodá-lo ou chefe maior para controlá-lo, Carlos Brandão chegará ao seu Governo propriamente dito dono do seu destino. E nada politicamente mais lógico do que ele mobilizar a base aliada para eleger o presidente da Assembleia Legislativa, garantindo, pelo menos no plano institucional, uma convivência sem sobressaltos com o Poder Legislativo. Um governador sem força política não viabilizaria uma operação dessa envergadura.
Alguns observadores da cena política estão enxergando uma crise envolvendo o governador Carlos Brandão e o senador eleito e futuro ministro da Justiça Flávio Dino, que se posicionara em favor do presidente Othelino Neto, mas recomendando o consenso. Tal crise simplesmente não existe, não tendo havido nenhum gesto ou palavra indicando o risco na direção de uma ruptura. Houvesse uma situação de choque entre Carlos Brandão e Flávio Dino, todos perderiam, a começar pelo próprio presidente do Poder Legislativo, que, em meio a uma crise, tentaria eleger-se numa disputa acirrada, de desfecho imprevisível, correndo sério risco de ser derrotado, e, pior, carregando sobre os ombros o ônus de ter sido o pomo de uma discórdia com potencial para fazer estragos no cenário político maranhense.
Com cinco anos na presidência da Assembleia Legislativa, o deputado Othelino Neto conhece de cor e salteado as filigranas sensíveis que movem o Poder Legislativo e a relação da instituição com o Poder Executivo. Ao acatar a forte sinalização do Palácio dos Leões, o presidente Othelino Neto refez suas contas, conversou com aliados e com o seu partido, mediu e pesou todos os prós e contras e decidiu participar do consenso proposto pelo governador Carlos Brandão. Pelo menos foi esse o cenário durante o dia de sábado. Reeleito com grande votação, Othelino Neto será um parlamentar forte, com seu espaço político largamente ampliado com a ascensão da sua mulher, Ana Paula Lobato (PSB), ao Senado da República no início de fevereiro, com a ida do titular da cadeira Flávio Dino para o Ministério da Justiça e Segurança Pública – não há como separar uma coisa da outra.
Com a definição agora, o governador Carlos Brandão vai começar o seu mandato no dia 1º janeiro com uma preocupação a menos, e com a certeza de que governará com maioria sólida numa Assembleia Legislativa comandada por uma aliada de primeira hora, sem qualquer risco de tensão. E com a vantagem de ser o responsável direto pelo marco histórico que registrará a deputada Iracema Vale como a primeira mulher a comandar o Poder Legislativo do Maranhão.
Via Repórter Tempo