Estrutura precária afeta o ensino

Escolas depredadas e com espaços desconfortáveis fazem com que o aluno sinta-se desmotivado e até abandone os estudos

Duas em cada dez escolas brasileiras estão depredadas. Entre os problemas, portas e janelas quebradas, brinquedos mal conservados e paredes e muros pichados. Diante desse cenário, especialistas alertam para a interferência do ambiente na qualidade do ensino e do aprendizado. Uma estrutura deficiente torna as atividades de alunos e professores mais complicadas e pode contribuir, inclusive, com a evasão de estudantes.

O dado faz parte de um estudo conduzido pela Fundação Victor Civita – que trabalha com a produção de conteúdos e pesquisas na área de educação – e, segundo a diretora-executiva, Angela Dannemann, o número só não é maior porque engloba instituições públicas e privadas. Embora não estimado, o total de escolas mantidas pelo poder público em péssimo estado de conservação é muito superior.

Para os educadores, um ambiente escolar limpo, pintado e organizado faz o aluno se sentir acolhido, disposto a usufruir o que o espaço oferece e empenhado em aprender mais. “A escola é como um shopping center, em que tudo é voltado para um objetivo. No caso do shopping é o consumo e no da escola, a educação. Todo espaço que cerca o estudante tem de ser atrativo e passar alguma informação. Por isso é importante que os jovens gostem de ficar nela, se sintam à vontade e não queiram ir embora o mais rápido possível”, diz a psicopedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Evelize Portilho.

Estrutura

Além das estruturas pedagógicas básicas – como playground, cancha de esportes e carteiras e quadros negros adequados –, outros aspectos, que à primeira vista parecem um detalhe, são essenciais para garantir que crianças e adolescentes passem quatro ou cinco horas por dia em um ambiente sem se sentirem desconfortáveis.

Entre esses detalhes estão o tamanho da sala de aula, o formato das janelas e a existência de áreas verdes. Os dois primeiros itens estão relacionados à ventilação. Eles precisam ter um tamanho adequado para permitir a entrada de ar. Caso contrário, um ambiente abafado pode fazer com que o aluno perca a atenção e fique sonolento.

O espaço verde é funcional e serve como área de convivência. “A vegetação, combinada com um bom projeto paisagístico, além de criar um espaço público e recreativo mais agradável, ajuda no conforto térmico e acústico. Para amenizar o ruído que vem da rua, é importante ter um trecho de árvores entre ela [rua] e a entrada da escola”, explica a arquiteta Andressa Ferraz Damiani, da Cosmopolita Arquitetura, que trabalhou na aprovação de projetos de escolas públicas para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Manter um ambiente escolar adequado não é tão simples quanto parece. Quando se trata de instituições públicas, ainda é preciso vencer a burocracia. No Paraná, as escolas estaduais têm recursos do Fundo Rotativo para fazer pequenos reparos, como arrumar um vidro quebrado ou limpar a caixa d’água. Para reformas maiores, é preciso entrar em uma lista de prioridade. Como dois terços das 2.136 escolas precisam de algum reparo, as que ficam destelhadas por causa de chuva, por exemplo, têm prioridade. “Um engenheiro vai até o local e analisa. Se o problema comprometer as aulas, a escola é atendida”, explica Jaime Sunye Neto, superintendente de Desenvolvimento Educacional do Paraná.

Aluno deve se sentir como parte da escola

Escolas antigas tendem a apresentar mais problemas estruturais. Falhas que, se mantidas por muito tempo, podem estigmatizar o local. “Se um professor puder escolher onde dar aula, vai preferir os espaços mais confortáveis e melhores. Isso gera um círculo vicioso, onde as instituições com melhor infraestrutura são também as com melhores docentes e vice-versa”, comenta Angela Dannemann, diretora-executiva da Fundação Victor Civita.

Dentro desse ciclo, alunos que não se sentem como parte da escola, ajudando a mantê-la em ordem, também têm mais chances de abandonar os estudos. Com uma estrutura bem cuidada e ações que envolvam os jovens para conservá-la, a importância daquele local para a vida do estudante torna-se mais evidente. “Esse trabalho de conscientização deve ser feito pela gestão escolar. Se não houver isso, os alunos vão continuar depredando, pois a veem como algo público, que pertence a todos e não a ele”, diz a psicopedagoga Evelize Portilho.

Comunidade

O envolvimento da comunidade também é fundamental nesse processo de identificação do aluno com a escola. Por isso, no Paraná, a rede estadual tem adotado uma boa estratégia: deixar que a comunidade opine em cada obra que é feita. Quando são necessários reparos, a direção reúne associação de pais e outras pessoas do entorno escolar para que eles digam quais são as prioridades, o que deve ser construído ou reformado primeiro.

O Colégio Estadual Pedro Macedo, em Curitiba, é um exemplo de interação que deu certo. Foram quase cinco anos de planejamento para reformá-la, com reuniões semanais que envolveram desde os pais até o padre da igreja da região. Hoje, o local tem quadras esportivas novas, refeitórios que comportam todos os alunos, laboratórios de Matemática, Física e Química e um espaço verde de convivência. “Não temos mais pichação ou depredação. Isso acontece porque os alunos respeitam o que está estruturado, o que é agradável e bonito”, comenta a diretora Deusita Cardoso da Silva.

 

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